quarta-feira, 2 de julho de 2014

6 Arquétipos para o Coaching

Esse sábado eu estava na Praça São Salvador, no Flamengo, e, como sempre, me deixei hipnotizar por crianças. No caso essas estavam jogando futebol, ou algo muito parecido com futebol e que envolvia chutes que nem sempre acertavam a bola e comemorações de gols imaginários que eram logo criticados pelas outras crianças que não "viram" o que estava só na imaginação do chutador. Subitamente um deles disse "então eu sou o Neymar". Pronto. Conflito estabelecido. Uma menina queria ser o goleiro e os outros três meninos queriam ser o Neymar. Da mesma forma como, para eles, parecia possível que um deles efetivamente representasse o Neymar durante aquele jogo, também parecia impossível que todos os três fossem o Neymar durante o mesmo jogo. Então, depois de alguns empurrões e caras emburradas, a brincadeira parou. Todos os que poderiam se divertir estavam, naquele momento, claramente frustrados. Mas frustrados exatamente com o quê?

Creio que estavam frustrados por perceberem que suas projeções não poderiam ocorrer, todas, simultaneamente dentro do mesmo sistema. Todo mundo vê o Neymar jogando, mas não vemos 11 Neymares em campo (ok, o Galvão vê, mas estamos falando de pessoas sãs).

Projeção e cotidiano
Passamos horas vendo jogos na TV e pouquíssimos minutos efetivamente tentando emplacar uma
Quando foi que ver passou a ser
mais divertido do que jogar?
embaixadinha ou jogando uma partida de futebol com nossos amigos. Quantos de nós passamos horas discutindo as ideias de um autor e menos de alguns minutos lendo o resumo das obras dele na wikipedia? Quanto de nossa autonomia criativa e civil estamos culturalmente condicionados a projetar em algum candidato na esperança de que ele faça um décimo do que promete nas campanhas?

Cultura de projeção
É um retrato muito fiel da nossa sociedade a imagem de um homem sentado em frente a uma televisão com um copo na mão. Se não tomarmos cuidado naturalmente viveremos muito mais de projeção do que de ação, muito mais de reação ao que vem de fora do que de criação a partir do que vivemos por dentro.

A projeção é uma característica comum do ser humano. Projetamos o ideal do homem em nossos pais, o ideal de mulher em nossas mães e passamos boa parte da nossa adolescência reagindo a esse ideal que só existe dentro de nossa cabeça quando percebemos que os seres humanos, pai e mãe, não correspondem às imagens que fizemos. É parte do processo de maturação do sujeito e a projeção faz parte da nossa forma de lidar com o universo externo, com esse insano mundo de coisas e seres que não-são-eu. 

Projeção e desempenho
O fato é que as nossas naturais projeções podem influenciar fortemente nosso desempenho. Imaginemos por um instante que um dos meninos fosse argentino e outro espanhol decidissem ser, respectivamente, o Messi e o Iniesta. Estaria em jogo ali a superioridade de um jogador sobre o outro entre aqueles pequenos pés corredores e chutadores. Estaria ritualizada a rivalidade cultural e o jogo da dinâmica energética que mantém acesa a chama do entusiasmo na dinâmica internacional entre esses países. Tudo através de seis pés, uma bola e a menina goleira. Projeções e representações mudam nosso desempenho. Reconfiguram os valores e incendeiam ou eliminam determinados conflitos.

E se orientássemos nossas projeções para a criação ativa?
Amo trabalhar com criatividade e processos criativos, talvez quase tanto quanto amo trabalhar com mitos e mitologias. Através dessas duas paixões imortais minhas criei, em 2006, o treinamento patenteado "A Jornada do Herói®(1)", que, entre outras dinâmicas várias, usava duas em especial para trabalhar a projeção arquetípica como uma forma de gerar um caldeirão criativo para os meus clientes usando como base a estrutura da Programação Neurolingüística e meu conhecimento sobre mitologia, história das religiões e rituais de passagem ao redor do mundo.

Imaginemos, por exemplo, pensar um projeto ou uma ideia através da perspectiva de uma divindade. Como a deusa da estratégia (Atená) veria seus planos para os próximos seis meses ou cinco anos? Como o deus da comunicação e das trocas comerciais (Hermes) pensaria a divulgação das suas ideias? Ou como a deusa do compromisso e da palavra empregada (Hera) veria seus acordos? Já imaginou como o deus das festas, da orgia e do vinho (Dioniso) planejaria uma festa?

Aplicação: projeção e âncoras
Foi a partir desses pontos que desenvolvi algumas aplicações práticas e rápidas para "acessarmos" esses arquétipos através de técnicas da Programação Neurolingüística e reforcei sua experimentação através de estudos da Neurociência Cognitiva (na época uma ex-namorada que se especializou em neurocirurgia na Alemanha me deu um livro da área sobre o tema que até hoje é minha bíblia no assunto) para embasar as experiências dentro da linguagem científica corrente. 

O básico da "brincadeira" está em colocar o máximo de dados sensoriais possíveis numa imagem de uma divindade logo à sua frente: desde a cor dos olhos, textura dos cabelos e pele até o som da sua voz, tamanho do seu corpo, roupas, luminosidade, expressão facial, cheiros, sons, tudo ampliado e imaginado por um período extenso de tempo. Após esse período o cliente pode decidir seguir por três caminhos:

1. Consulta (mentoring)
Nada mal usar como base
a imagem da atriz que
interpreta a Atena do Percy
Jackson para desenvolver
estratégias.

Perguntar ao arquétipo projetado à sua frente sobre seus planos, projetos e ideias. Questionar sobre caminhos possíveis e pontos-cegos (áreas, informações ou consequências dos nossos planos que não estão claras para nós, mas que são bem óbvias e importantes do ponto de vista do arquétipo). Aconselhar-se e tirar ideias criativas para serem usadas futuramente.

2. Vivência da energia arquetípica (entusiasmo)
Entrar em contato com o arquétipo, levantando e caminhando em direção à projeção feita para que o cliente se sinta em contato direto com aquele arquétipo, vendo, ouvindo e sentindo o mundo ao redor através do corpo do arquétipo (do "Grande Pai", da "Grande Mãe", do "Trapaceiro", do "Herói"). Essa vivência costuma dar ao cliente uma reação cognitiva muito mais intensa, suprimindo os "diálogos internos" por simples soluções intuitivas que, em geral vem como "insights" na forma de palavras, frases ou imagens.

E o entusiasmo
guerreiro de
Atena em batalha?
3. Ancoragem do arquétipo (criação de uma ponte arquetípica)
A Ancoragem do arquétipo deve ser planejada com antecedência e eu costumo indicar que o cliente faça ao menos três vezes a vivência (descrita logo acima) antes de ancorar, familiarizando-se com o caminho que ao qual a ponte - uma vez criada - levará. A ideia da ancoragem é que o cliente possa entrar em contato com o arquétipo escolhido a qualquer momento de sua vida, independente de necessitar da minha intervenção pessoal. É comum, por exemplo, ancorar o deus da guerra e das batalhas (Ares) para aumentar o desempenho em corridas, lutas ou treinamentos com pesos, assim como é comum que algum cliente queira ancorar o deus da superioridade e da liderança (Zeus) para assumir determinadas posições ou enveredar por novos desafios profissionais ou pessoais. 

Senso de oportunidade e coerência
Da mesma forma como podemos ter nosso desempenho ampliado à exaustão e um caldeirão de perspectivas e inovações criativas borbulhando de forma ininterrupta em nossas mentes e projetos, também podemos fazer como as crianças na pracinha jogando futebol e colocar arquétipos em contextos em que eles são disfuncionais. Fico imaginando o estrago de usarmos Poseidon, deus dos mares, marés e humores, representante de uma força de vontade indomável, sendo usado para finalizar um quebra-cabeça em família, ou manter a calma durante uma discussão de condomínio...

Algumas considerações
É preciso que tenhamos muito claro, ao utilizar uma técnica transdisciplinar avançada como essa, três fatores:
Não leve Poseidon para
reuniões de condomínio...

1. Senso de oportunidade: quando usar qual arquétipo ou divindade para qual finalidade em específico. Caso contrário podemos entrar no caso mencionado acima com Poseidon na reunião de condomínio e ter um infarto dando tudo de si num engajamento emocional fora de contexto.

2. Conhecimentos específicos: é muito improvável que uma pessoa sem conhecimento real e sólido sobre o processo de ancoragem, mitologias e psicologia analítica consiga efetivamente conduzir uma dinâmica desse porte(2). Conte sempre com um coach que tenha conhecimento sólido desse trabalho, ou seja, que tenha participado de um dos 16 treinamentos da Jornada do Herói® que já ministrei.

3. Um fechamento muito claro do processo: É preciso tirar o cliente da "zona arquetípica" depois da vivência e trazê-lo para o "aqui e agora", onde ele é quem ele é e está em contato direto com o Coach. É preciso sempre certificar-se de que existe uma separação clara entre as perspectivas e leituras de mundo de uma divindade ou arquétipo e as nossas, o que implica num certo grau de auto-conhecimento também, para compreender as nossas projeções.

Divirta-se! 6 Arquétipos para o Coaching
Tendo esses três cuidados acima mencionados, o resto é pura diversão! Podemos nos motivar com a companhia de Zeus, sermos fieis aos compromissos assumidos por nós mesmos com Hera, aprender a pressionar o carvão dos nossos sonhos até materializarmos diamantes na nossa vida real com Hades, compreendermos e sentirmos melhor o fluxo energético das nossas emoções e vontades com Poseidon, desvendar os nossos segredos interiores e descobrir o núcleo da nossa vida com Héstia ou cultivar, cuidar e cultuar nossos projetos, nossas criações, com amor e empatia com Deméter. E escrevo apenas esses exemplos porque, por uma questão de tamanho do texto, escolhi mencionar apenas Zeus e seus cinco irmãos, deixando de lado um elenco homérico de possibilidades criativas e potencializadoras!

Já criei uma peça de teatro usando essa dinâmica, já escrevi contos sob a ótica de uma divindade, já criei diversos projetos utilizando essas técnicas e já desenvolvi capacidades que eu tinha latentes invocando, por exemplo, a agressividade bem direcionada, a coragem e a combatividade de um Ares (o sujeito é destrambelhado, mas usado com parcimônia no momento certo é sensacional!).

Quer experimentar essa dinâmica?
Marque uma consulta através do telefone (21) 9-8243-5513 ou do e-mail renatokress@gmail.com

Quer aprender a conduzir essa e muitas outras dinâmicas arquetípicas com seus clientes?
Comente abaixo deixando seus contatos e participe da décima sétima Jornada do Herói® nos dias 2 e 3 de agosto, no Spazianno, em Ipanema.

Sabemos que não podemos "ser" Zeus, Hera ou Deméter da mesma maneira que as criancinhas na praça estavam chateadas por não poderem "ser", simultaneamente, o Neymar, mas também temos consciência de que podemos usar nossa natural capacidade de projeção para aproveitar seus pontos de vista de forma orientada para as nossas metas! Então por que não começarmos a criar a partir daí?

Renato Kress
Criador do Coach Quíron

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(1): Segue a foto do registro do treinamento A Jornada do Herói, com seus direitos autorais:

(2) Antes de mais nada é necessário compreender que esse trabalho é um uso pessoal de uma técnica patenteada que, para ser usada, precisa de um certo grau de domínio sobre conhecimentos específicos. Tenho uma década de formação como treinador de programação neurolingüística, sete anos como antropólogo especializado em mitos, ideias e crenças religiosas (além de ser apaixonado por mitologia grega em específico) e uma especialização de dois anos em psicologia analítica (Jung), além de outras vivências pessoais com xamanismo peruano e muita responsabilidade sobre o que faço. 

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