quinta-feira, 15 de maio de 2014

3 Maneiras de operar Estratégias e Táticas para Metas

À medida em que nos movemos em direção aos nossos desejos vamos encontrando novas respostas da realidade ao nosso redor e temos de responder a essas realidades. Ir a uma agência de viagens pode nos lembrar de ver se nosso passaporte está em dia, decidir estudar para uma prova pode nos mostrar que criamos um hábito de dormir demais ou até que perdemos uma velocidade de leitura que um dia tivemos. Toda percepção formulada depois de uma decisão ou ação pode nos levar a reestruturar nossa estratégia ou a rever nossas táticas. Para quem esteja atento nada é falha, tudo é "feedback" ou retroalimentação.
Um dos trabalhos mais frequentes, no Coach Quíron, é estabelecer uma estratégia junto com meus coachees (clientes) e fazer o seu acompanhamento periódico até que a meta seja atingida ou até que o cliente tenha desenvolvido uma autonomia na jornada em direção à sua meta. Esse acompanhamento vai delineando as táticas desenvolvidas pelo cliente para alcançar a(s) meta(s) definida(s) pela estratégia.

Tudo é Feedback
Quando se tem o desejo de treinar ou instruir pessoas é imprescindível que se atente ao fato de que é necessário  adquirir conteúdo. Conhecer e aprender, com tudo e com todos, implica tanto numa postura disciplinada em horas de leituras coordenadas, quanto em humildade, para que saibamos aprender com tudo e com todos a todo o tempo. Bons e maus exemplos são fontes idênticas de aprendizado. Desperdiçar conhecimento ou julgar-se tão sábio a ponto de não precisar conhecer mais nada é que são os únicos verdadeiros inimigos do crescimento e da sabedoria.

Aprendizado
Quem são seus grandes desafios?
Quem são seus grandes mestres?
Lembro-me de uma anedota budista que contava que num mosteiro havia um cozinheiro muito mal educado, rude com os monges, teimoso e que cozinhava muito bem ou muito mal quando lhe convinha. Um dia esse cozinheiro pediu ao monge mestre, com quem vivia tentando criar atritos, para tirar férias de um ano, após as quais ele decidiria se voltaria ou não ao mosteiro. O monge mestre levou semanas para aceitar a proposta e ficou genuinamente triste quando o cozinheiro se foi. Vendo a tristeza do mestre um de seus discípulos perguntou: "Mestre, porque está tão triste com a ida do cozinheiro, ele era um péssimo cozinheiro, irritante e vivia criando intrigas entre os monges, é melhor que tenha partido mesmo!" Ao que o mestre respondeu: "Foi se embora meu maior mestre de paciência."

Alavancas e empurrões
"Me dê uma alavanca e um ponto
de apoio e eu erguerei o mundo"
- Arquimedes, filósofo grego
Quando estamos desenvolvendo uma estratégia, para o fim que seja, necessitamos de pontos de apoio, um fundamento real e confiável para o início da ação. Em geral muitos erros em estratégia ocorrem quando não nos damos conta de que esse fundamento deve ser uma alavanca para o início da estratégia e não para todo o percurso do desempenho dela, o que chamamos de "campo tático". Precisamos de uma força maior que nos impulsione adiante no início da jornada, mas não necessariamente teremos de levar essa força maior até o fim de nossa meta. Imagine se a nossa alavanca inicial fosse um estado de "insatisfação". O quão frustrante, desgastante e desanimador seria levar essa insatisfação até conseguirmos nosso objetivo?

A tática ocorre ao longo do tempo decorrido entre a formulação da estratégia e o ato de alcançar a finalidade para a qual a estratégia foi desenvolvida. Basicamente tática são as manobras possíveis dentro do contexto da "batalha", no desenrolar dos acontecimentos postos em ação pela nossa estratégia.

Estratégia e tática, ovos e galinhas
O ideal é que a estratégia, o planejamento e a antecipação, a observação dos atores e motivações no campo de nossos interesses, venham antes da tática. Antes de entregarmo-nos a esse mesmo campo e mergulharmos no cotidiano intempestivo e improvável da batalha. Acontece que nem sempre temos tempo, no turbilhão da vida, de planejar a execução de nossas atividades com a melhor das antecipações e meditações. Muito da arte da vida está na nossa habilidade de improvisar, também.

Às vezes caminhamos quase como se de olhos vendados em direção a um objetivo mal traçado ou traçado em linhas gerais e inespecíficas. É percebendo os momentos em nossas vidas em que agimos dessa maneira que podemos compreender como várias táticas diferentes e disfuncionais nos fazem perceber a importância de estabelecermos uma boa estratégia. Nesse caso, em geral, as táticas falhas nos ajudam a mapear os passos dentro do planejamento estratégico. Nesse caso a tática antecede a estratégia.

No caso clássico a estratégia é quem tem a primazia. Antes nos preparamos e nos treinamos, desenvolvemos os atributos, capacidades e comportamentos necessários para passar por uma determinada fase de nossa vida ou para alcançar um determinado ponto ou meta em nossa carreira ou empresa e só então mergulhamos efetivamente no "calor da batalha". Em geral tendemos a ver a relação entre a estratégia e tática dessa forma e nessa ordem: planejamento e execução.

Nem lá nem cá, acolá
Contextos complexos e mutáveis,
essa é a realidade mais comum
e a mais difícil de lidarmos.
A terceira forma de trabalhar é integrar essas duas vertentes reestruturando a estratégia de acordo com as respostas obtidas pela tática ao longo do caminho e repensando as manobras táticas sem perder de vista os parâmetros pensados pela estratégia. Criar uma tensão reconstrutora entre os dois é, a meu ver, a melhor forma de lidar com um universo complexo, como em geral são os universos reais, que envolvem seres humanos, suas motivações, interesses e valores.

Decisões sobre carreira, por exemplo, nem sempre conseguem ser completamente estratégicas. Muitas vezes temos que observar o campo de forças, reações e interesses ao nosso redor para podermos especificar o melhor movimento para a nossa carreira.

Apego e dinâmica
É comum que nos apeguemos. Faz parte da natureza do ser humano se apegar àquilo que de alguma forma o sustenta ou sustenta a imagem de quem ele é. Por isso que é importante não nos identificarmos subjetivamente com a estratégia (ou com a tática), termos a consciência clara de que "eu ajo", ou "eu planejo" são diferentes de "eu sou".

Quando nos identificamos com algo -  "eu sou analítico", por exemplo -  tendemos a nos apegar àquela identidade e a depender dela para podermos dar sentido a nossas ações no mundo. Se no identificamos com uma determinada estratégia ou tática geramos dois problemas:

1. Precisamos que ela se sustente indefinidamente caso contrário ficaremos sem referenciais para quem somos. Somos muito mais complexos que nossas ações e motivações e é preciso salvaguardar essa complexidade, respeitar-se.

2. Não vemos, ou pelo menos tendemos a ignorar fortemente, outras possibilidades de linhas estratégicas, não vemos todo o amplo espectro de possibilidades de táticas diversas. Basicamente perdemos o fator surpresa.

Identificação e desapego
O primeiro problema nos leva a não chegarmos no fim para o qual a estratégia foi proposta. Afinal, se "eu sou aquele que busca X" terei perdido minha identidade no momento em que encontrar "X", e perder a identidade é um problema gravíssimo! Perdemos todos os referenciais nesse momento e abrimos espaço para uma grande depressão, por exemplo. Com certeza conhecemos histórias de pessoas que passaram por isso.

Na história do judaísmo e no nascimento do cristianismo por duas vezes o templo, central para a identidade do que era ser "judeu", foi destruído. Se por um lado o principal referencial de contato com a divindade que aquele povo tinha havia desaparecido gerando uma grande dose de incerteza e frustração, por outro lado essas destruições foram, ambas, seguidas por um forte entusiasmo criativo que deu origem à Bíblia como a conhecemos hoje. Tanto estratégia quanto táticas foram repensadas nessas ocasiões e a identificação "eu sou o Templo" teve de ser ressignificada.

Criando pontes
Os "campos de batalha" onde operaremos nossa estratégia e tática são, em geral, campos complexos, com vários fatores a serem considerados, então é interessante aprendermos a nos desapegar de um fundamento ou de uma "raiz" da estratégia ou mesmo da tática a fim de podermos passar a nos sustentar no fundamento seguinte, que naturalmente vai aparecer ao longo do desenrolar das ações. Só podemos ter alguma noção das alternativas possíveis se não nos identificarmos com nenhuma delas em específico. Obviamente não estou falando de "não ter identidade", mas de perceber que nossa identidade está acima e além das estratégias possíveis.

O segredo é a alma do negócio
Não existem casos ideais nem fórmulas perfeitas. Todas as três posições acima: tática que gera estratégia, estratégia que gera tática ou ambas se retroalimentando são possíveis e aplicáveis a sujeitos e contextos diferentes. Cabe a cada um de nós saber identificar o melhor momento para cada uma.

Mas independente dessas possibilidades todas, o mais importante é que esses processos internos sejam tão claros para cada um de nós quanto obscuros para todos os demais. As melhores estratégias e táticas são as que possuem pouca previsibilidade. É o que chamamos de "agendas ocultas". Deixo vocês com a sabedoria da cultura interna da máfia italiana: "O capo conta muito a poucos, pouco a muitos e tudo a ninguém".

Texto: Renato Kress

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