terça-feira, 27 de maio de 2014

Você está vivo? Tire os excessos e descubra!

Deve ter uns dois meses que comecei com esse movimento. E eram cartas, livros, revistas, LPs, fitas K7, roupas, sapatos, tênis, caixas e caixas de papéis antigos, contas, provas de faculdade, livros didáticos, cartas de amor e manuais e garantias de eletrodomésticos que já nem lembro mais para quem eu já havia dado. Foi tudo separado, doado, jogado fora, dado a feiras e a amigos e ao pessoal que vende histórias em quadrinhos e roupas em brechós.

Cada coisa foi encontrando o seu espaço e cada espaço foi se enriquecendo com cada coisa. E o meu espaço se tornou outra coisa. Os acúmulos de pensamentos e passados foram se esvaziando e os espaços recheados de confusão e incerteza - aqueles pequenos pontos de "sei lá o que tem lá" - foram ponto a ponto, pouco a pouco, virando espaços de vida em fluxo e pulsação. Eu deixava de ser ali um depósito de outros eus passados e começava a reconquista de um território fértil, ou a fertilização de uma conquista tardia.

Começou um pouco quando reformei o quarto de visitas, pensando em alugar para a Copa. Eram caixas e caixas de antiguidades de mim mesmo, uma antiguidade que não voltaria, mas nem por isso estava realmente passando, sabe? Estava lá represando a passagem da vida naquele pequeno aparte de mim.

Microcosmos
E vamos trazendo e trazendo até que percebemos
que há uma força tragando as coisas e, com elas,
nossos projetos, pensamentos, nosso tempo...
Quando se mora sozinho por muito tempo a casa vira extensão da alma de uma forma impossível para quem vive em família, entre amigos, em repúblicas. O nosso humor reflete nas louças, nas roupas, nas estantes. Percebo aqui que o meu humor é parte de um instinto doméstico imediato. Qualquer um que entre com um pouco mais de sensibilidade me intui pelo espaço, talvez até a dinâmica das almofadas seja uma carta aberta com um monte de segredos devassados.

A sensação, agora, é como se a minha história pessoal se alastrasse por vários quilômetros de outras vidas e outras histórias e alargasse as fronteiras intimistas, egoístas e tímidas do meu dia-a-dia. É um abrir mão de um controle que nunca tive, é desistir de segurar a onda, ir remando mais lentamente e começar a surfar.

Tão melhor quando podemos escolher
a onda que vamos surfar, não é?
Escolhendo a onda
Nós realmente nunca sabemos como viver. É claro que diferentes pessoas encontram diferentes formas de se relacionar com os diferentes contextos que a vida oferece a cada uma delas. De fato alguns parecem ter mais "desenvoltura" ou habilidade e acaba executando uma ou outra performance digna de aplausos, mas na realidade, intimamente, sabemos que todos nós estamos improvisando essa jornada. A questão mesmo é ajudar no improviso.

Movimentos internos, movimentos externos
O aluguel do quarto para a Copa - que já está praticamente fechado, inclusive - foi na verdade apenas o reverberar externo de um movimento interno meu. Acho que é impossível trabalhar com tantos clientes, metas e descobertas de tanta gente interessante sem percebermos algumas coisas para nós mesmos. Uma ex-cliente percebeu que precisava arrumar seu closet e esse movimento a liberou para fazer um cruzeiro pela Europa com a irmã. Uma outra cliente desistiu de estudar por um dia para o concurso público e passou aquele dia inteiro rearrumando seus livros, cadernos, a disposição das coisas dentro do quarto, criando o espaço perfeito para estudar e, segundo ela, isso mudou toda a experiência do estudo em si e até mesmo do aprendizado! Foi quando me perguntei: Por que não eu?

Arqueologia de mim mesmo
É interessante ver quantas vidas já vivemos,
para quantas aventuras e aprendizados já
nascemos e morremos enquanto ainda
estamos aqui.

Ainda falta muita coisa. Mas do que já passou posso dizer, sinceramente, eu passei. Eu passei para uma outra fase. Poder rever mil fotos e cartas e redescobrir livros, cheiros, cadernos, anotações, experiências, é sensacional. Foi como uma arqueologia de mim mesmo, um vasculhar dos escombros das minhas eras interiores, dos meus espaços e delírios, esperanças, sonhos, caminhos, experiências, pessoas.

Menos e mais
Olhar a casa com menos de dez por cento dos estímulos visuais que te carregavam a atenção também é sensacional. A sensação é de que numa vida "minimalista" a gente faz mais, a gente produz mais porque se perde menos. Sentar para escrever é mais gostoso agora e até lembrei de uma antiga ideia de colocar uma essência quando estivesse produzindo. É um processo de "ancoragem" da pnl, é uma "técnica" que ensino, de várias outras formas, para meus clientes, mas, acima de tudo, como tudo o mais na vida, funciona melhor se for adaptado de forma orgânica, natural, ao nosso cotidiano.
Por que não criar
novos rituais?

Só por hoje vou evitar o primeiro clique inútil
Outra percepção que eu tive também foi a da quantidade de "cliques inúteis" que damos na vida. É claro que diante da avassaladora quantidade de "cliques" que damos diários percebemos a maior parte deles no nosso meio virtual. Mas e quanto aos "cliques" da nossa mente? E quanto àquela ideia que começamos e foi interrompida pela outra ideia que foi interrompida por uma outra... bem, você entendeu.

Percebi, nessa arrumação, que por algum motivo ainda não muito claro, eu diminui muito dos "cliques" mentais inúteis. Muitos deles são mais claros: aquele aquário que precisava ser doado, aquela parede que precisava ser refeita (e agora já está sendo), aquele rearranjo nos móveis do quarto ou mesmo aquele simples "tirar tudo da frente" e o "colocar cada coisa em seu lugar". Clareza dá clareza.

Quando foi a última vez que você "fluiu"?
(Foto premiada do meu querido amigo
 José Amarílio Júnior)
Quando foi que você conseguiu evitar o seu primeiro "clique inútil"?
Quando foi a última vez que você fez uma arqueologia íntima?
Onde foi que você parou de fluir?
Do que você precisa se livrar?
O que você gostaria de passar adiante?
O que você precisa mesmo levar com você?

Posso garantir que é muito interessante quando começamos a presentear algumas pessoas com nossos passados e ganhamos de presente mais do nosso próprio presente.

Que tal experimentar?

Renato Kress
Coach Quíron

Antropólogo e Cientista Político
Especialista em Psicologia Junguiana
Coach Pessoal
Coach Profissional
Coach Ontológico
Treinador de Programação Neurolingüística

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