sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Pandore-se!

A interpretação patriarcal do mito de Pandora nos traz a primeira mulher sendo criada como o maior flagelo da humanidade. Claro que a humanidade, que até então era composta apenas por homens - vai entender a reversão necessária na ordem orgânica e natural para criar isso! - teve problemas para conviver com o diferente, no caso, a diferente. A diferença continua sendo nosso grande desafio.
Zeus, numa faceta completamente autoritária e vingativa, muito diferente do que viria a se tornar futuramente, decide criar um "mal" contra os homens, um "mal" que os próprios homens desejariam "cercar de amor". Hefesto - deus das forjas e dos metais - umedeceu um pouco de terra e lhe deu a voz e a força dos homens, formando um corpo "à imagem dos corpos das deusas". Atená - deusa da sabedoria e estratégia - lhe ensinou seus trabalhos. Afrodite - deusa da sedução e do amor - lhe espalhou a graça e o desejo. Zeus fala e todos o obedecem.
Mas toda divindade é uma reificação do povo que a imaginou, um retrato mais ou menos distorcido de quem conta suas histórias. E essa história foi contada por um Zeus que era a representação de um povo belicoso, conquistador, avesso ao campo semântico do feminino. Os Aqueus, Jônios, Dórios e Eólios que desceram do norte da Europa para a Grécia, conquistando os povos agrários daquelas áreas. Povos guerreiros e controladores, avessos, naturalmente, a tudo o que fugisse ao seu controle. E Pandora, bem, Pandora é tudo menos obediente aos caprichos do masculino idiotizado que é representado por seu marido Epimeteu ("aquele que pensa depois").
Não perguntaram às deusas o que elas acharam da Pandora. Deviam achar ela o máximo!
Pandora é linda, inteligente, sedutora, curiosa, criativa e livre. Talvez ela se desse bem com um Dioniso, com um Hermes, mas com certeza seria um castigo para qualquer homem (ou deus) fixado em relações de poder e controle.
Pandore-se! Emoticon grin

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