quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O ano que faremos

O mundo é construção e crença. Enquanto Uns inauguram a centelha da ideia e do ato, outros acreditam nessa construção e a reproduzem, diariamente, em palavra, hábito e vida. Uns criam, outros crêem.

2013 foi um ano de ensaios. Contra a crença da covardia da luta de todos contra todos, unimos vozes, corações e ruas em gigantescos laboratórios alquímicos para a ebulição das reações diante de uma cultura que tem insistido em nos obrigar a sentir medo para que consumamos mais e pior, que nos infantiliza e segrega, ensinando que devemos pensar única e tão somente em nós e competir e agredir e tirar vantagens de todo o resto, por todo o tempo.

Um ano em que os ratos em nossas piscinas sociais e políticas ficaram tão nítidos que, em alguns momentos, entre presas e olhos vermelhos, sequer víamos as águas e, acostumados com a lógica infantil do "descartável", pensamos em jogar tudo fora.

Foi indescritivelmente lindo sentir intimamente, nas minhas veias e entranhas, que o cansaço que crescia em mim também preenchia o peito inflando as vozes e movendo os braços de muitas pessoas. Está sendo uma experiência incrível ver o desgaste e o descrédito do egoísmo, da má malandragem, de tudo o que temos de pior.

É como o símbolo do Tai-Chi (que muitos conhecem como "yin-yang): dentro do ápice  da força negativa se encontra o gérmen, a semente da força positiva.

E não é que ensaiamos nesse ano justamente a reversão desse medo difuso? Se pararmos para relembrar 2013, o que mais intensamente fizemos além de exaustivamente treinarmos um potencial a germinar em 2014? Algo cuja melhor palavra que me vem, para descrever - ainda que possa soar mais irônica que esperançosa - é "humanidade". E ainda temos tanto a reaprender e reconstruir nesse caminho, não é mesmo?

Ensaiamos uma poderosa troca nesse ano: a da nossa cômoda infantilidade consumista pela nossa nova e dolorosa maturidade social. Saímos das nossas gavetas de concreto para descobrir a concretude do olho no olho, do aperto de mãos, de milhões de vozes em coro. Estamos, finalmente, crescendo. E isso dói. Todo nascimento, toda transformação dói. Estivemos em crisálidas, em casulos, encapsulados e regredidos a absorver e reagir, por tempo demais. Ensaiamos nosso big-bang, resta-nos estarmos aptos para o universo que criaremos quando a energia inicial se dissipar.

Abraçar mais, observar mais, amar mais. Ouvir a opinião do outro mais do que esperar nossa vez de falar, aprender a admitir quando estamos errados sem nos sentirmos frustrados infantilmente procurando culpados e desculpas, compreender o mérito que há em encarar o desafio de amadurecer nossas crenças e nossos atos, perceber que o único desejo de fim de ano realmente válido, para qualquer pessoa, é aquele que podemos desejar para nós e para todos, simultaneamente. Essas são algumas das minhas metas, que são também meus desejos, a todos nós.

A todos nós um 2014 em que possamos crer, acima de tudo, no nosso poder criativo e na nossa capacidade de amar.

Renato Kress

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