terça-feira, 3 de junho de 2014

10 ideias sobre a Criatividade e seus usos.

A criatividade vem deixando de ser um atributo para ser um valor. Talvez nunca tenhamos tido tanta ênfase no uso e na ideia de criatividade como estamos tendo hoje em dia. Acreditamos que precisamos dela não só para nos sentirmos únicos e mais significativos para as pessoas ao nosso redor, quanto também para trabalharmos de forma mais agradável ou só para nos tornarmos indispensáveis. Afinal, vivemos num mundo do trabalho onde a repetição se torna cada vez mais simples e fácil. Direta ou indiretamente somos levados a acreditar que a criatividade é uma questão suprema para a nossa sobrevivência.

É nesse ponto que a criatividade se torna um valor e muitas empresas correm atrás de empregar os profissionais mais criativos e adaptáveis. Ainda que boa parte delas ainda use seus "headhunters" apenas para encontrar mentes criativas, geralmente recém-saídas das faculdades ou cursos de pós-graduação - e enclausurá-los em um cubículo com um livro de regras de "como as coisas são por aqui" nas mãos. A humanidade é cheia de paradoxos e a vida empresarial é só um dos microcosmos possíveis da nossa cultura.

Criar
A palavra "criatividade" significa "a atividade de criar", e o que é criar? Criar é "dar existência, gerar, formar¹" algo. A palavra criatividade é uma correlata do termo "criação" e apareceu no século XX¹, por uma questão de fundo religioso. Se por um lado a Igreja admitia que só Deus poderia "criar", era cada vez mais improvável que conseguíssemos esconder o fato de que o homem também possuía uma capacidade semelhante. Demos a ela o nome de "criatividade", uma atividade através da qual ambos, Deus e o homem, pudessem "concriar", criar em conjunto.

Mito e criação
O fato é que todas as mitologias de todos os tempos e lugares tem seus mitos fundadores, meus mitos da criação - não da criatividade! - e se pudermos passar um paralelo entre eles veremos que há sempre um grande opositor, um grande dragão ou monstro serpentino primordial que precisa ser derrotado para que a "criação" tenha início. Sem que precisemos rever as histórias de Marduk e Tiamat, Zeus e Tífon, Yahvéh e Leviatã, o importante é percebermos que, se a serpente troca de pele para permanecer com a mesma estrutura, a criação acontece quando algo vem e "mata" essa estrutura, sendo obrigada a substituí-la por outra. Aí vem a "criação".

Cria-se quando uma estrutura anterior se torna obsoleta ou já não nos satisfaz por algum motivo. Então aí partimos para uma pequena provocação que sugiro que levemos até o fim do texto. Quais estruturas - de pensamento, de crenças, de hábitos, de comportamentos - precisamos "matar"? E o que criaremos no lugar?

Com isso em mente, divirtam-se:

1. Escreva tudo (mesmo que sejam muitas coisas)

"Uma descoberta consiste em ver o que todo mundo já vi que pensar o que ninguém pensou" - Albert Szent-Gyorgyi
Não importa que você acredite que queira setecentas coisas diferentes. Escreva todas elas. De preferência em uma folha em branco, sem pauta. Se identificar uma ideia central, coloque-a no meio e escreva todas as demais ideias em volta. Não se preocupe com as conexões entre as ideias a princípio. Isso será feito no futuro. O importante é focar no positivo: "O que eu quero criar, fazer, potencializar, desenvolver etc" e não no negativo "O que eu não quero". Você quer montar um elefante de cabeça para baixo numa corrida pelo deserto do Saara vestido de amarelo e segurando um lampião à gás? Pois é. Não há papel no mundo onde caibam as coisas que nós não queremos. Então para salvar a Amazônia vamos poupar tempo e pensar no positivo.

Deixe que a imaginação aflore naturalmente. Se precisar de mais espaço cole outra folha, ou comece desde cedo com uma folha A3 ou uma cartolina. Use cores diferentes para áreas ou assuntos diferentes. Divirta-se!

Não é à toa que a palavra "criatividade" tem a mesma raiz das palavras "criação" e "criança". Crianças não sabem as "formas corretas" de fazer as coisas e, enquanto improvisam ou descobrem, criam. Não é à toa que as crianças em geral são mais criativas do que os adultos, da mesma forma como muitos artistas criativos têm alguns traços de personalidade infantil. Então quando digo "divirta-se!" é sério. Criação envolve diversão!

2. Mantenha-se curioso

"O que é necessário não é a vontade de acreditar, mas o desejo de descobrir, que é justamente o oposto" - Bertrand Russell 
Desfrute da experiência de estar criando. Perceba seu estado de espírito e seu humor no ato de criação. Sempre que modificar uma parte do que esteja criando observe como as demais partes se comportam, como se adaptam ou como reagem às novidades introduzidas. Um pingo azul num quadro branco é diferente se estiver sozinho ou se estiver cercado por pinceladas cinzas, e mais ainda se elas forem pinceladas laranjas. O mesmo acontece quando introduzimos um personagem novo na trama de uma novela ou peça de teatro ou quando incluímos um hábito novo no nosso dia-a-dia. Tudo vai gerar acomodações e reações do sistema. Esteja atento a essas acomodações e reações e, depois de percebê-las, você vai poder brincar e jogar com elas.

Desfrute da experiência e pergunte-se sempre "o que mais posso fazer?", "como isso tudo mudaria se eu colocasse em outro contexto?" e, quando chegar a uma conclusão definitiva, simples e saudavelmente pergunte-se: "será?".

3. Adote perspectivas diferentes

"Nós todos vivemos sob o mesmo céu, mas não temos todos o mesmo horizonte" - Konrad Adenauer
Seu ponto de vista é apenas um entre todos os possíveis. Sempre que quero ser mais criativo procuro ver como diferentes pessoas que eu conheço bem pensariam sobre aquela ideia ou assunto. Penso e projeto o espaço dessas pessoas numa cadeira à minha frente. Depois de imaginar aquela pessoa o mais nítida e intensamente possível com cores, roupas, texturas da pele, calçado, postura, olhar, tom de voz etc, eu levanto e sento na cadeira daquela pessoa e, através do ponto de vista dela, olho para o meu projeto, problema ou questão. É impressionante como isso amplia nossa capacidade de ver e perceber a realidade ao nosso redor.

Walt Disney fazia isso usando três "personas" que ele criou e chamava-os de "o sonhador" (ou "criativo"), o "realista" e o "crítico". Ele desenvolvia projetos inteiros assim. Passando de um ponto de perspectiva a outro e perguntando "o que eu quero fazer?" no primeiro, "como isso pode ser feito?" no segundo e "o que eu preciso acertar para que isso dê certo de verdade no mundo real?" no terceiro. A obra do homem está aí para mostrar que é possível.

Aliás, comece sendo criativo agora mesmo e pense se você poderia usar o modelo Disney ou se preferiria criar o seu próprio modelo de criatividade. Como ele seria? Quais pessoas, personalidades ou figuras da literatura você gostaria de usar como "perspectivas" para sua criação?

4. Use suas ferramentas
"Se nós pudéssemos vender nossa experiência pelo que nos custou, seríamos todos milionários!" - Abigail Van Buren
Tudo é treinamento e treinamento é tudo. Observe todas as experiências que você já teve e perceba a riqueza de "ferramentas" você têm à disposição para usar. Não é porque um projeto tem o rótulo de "administração" que você necessariamente vai iluminar, vasculhando seu quartinho da cabeça, somente a sua área de "cursos, conceitos e aprendizagens sobre administração". Claro que não! Deixe essa gaveta aberta, claro, mas experimente usar as ferramentas da "música" ou da "gastronomia". Misture as estações e deixe que as ideias novas naturalmente irão ocorrer.

Perceba como você, pessoalmente, apreende melhor a informação. É lendo? Leia! É sentindo? Sinta! É ouvindo? Ouça! Procure observar como você prefere que a informação chegue até você e então invista nisso para absorver mais e mais informação. Deixa que as conexões o cérebro fará mais à diante, especificamente quando você estiver no vaso ou tomando banho. Não sei por quê, mas a gente sabe que acontece. Talvez seja justamente porque relaxamos nesses contextos, como nas mesas de bar. Aliás, usar as ferramentas engloba levar um caderninho e uma caneta para todos os lugares. Ou ter um daqueles aplicativos de anotações onde podemos gravar um áudio, escrever ou desenhar livremente. Pode ser uma boa aprender a usar o celular para essa finalidade. Já parou para pensar em quantas ideias geniais se perderam no ônibus ou no metrô? 

5. Respeite o seu ritmo
"A passagem do tempo deve ser uma conquista e não uma perda." - Lya Luft
Confie no trabalho inconsciente. Imagine que cada cor, som, cheiro, sabor e textura pelos quais passamos diariamente é um estímulo. Agora pense que dos bilhões de estímulos que recebemos diariamente e passam direto para o nosso inconsciente sem que tenhamos consciência disso, alguns são cacos de informação desencontrada que formarão um mosaico completamente único de percepções e leituras completamente novas da realidade. Ao invés de forçar a criatividade, alimente-a. Quem sabe se o último caquinho que falta para a sua "eureka!" não está num papel de bala com uma cor ou figura geométrica que vai dar aquele "clic!" interno?

Por isso tire um tempo para caminhar. Sério. Quando caminhamos nossa mente vagueia naturalmente e vai rearranjando as informações que tão freneticamente colocamos para dentro ao longo do dia. Sem contar que o céu, azul ou cinza ou até estrelado, é praticamente um "quadro em branco" onde podemos projetar imagens livremente. Os poucos estímulos visuais que o céu nos proporciona nos ajudam a usá-lo para organizar nossa imaginação. Por isso também é mais fácil lembrar ou imaginar imagens olhando para cima ao invés de olharmos para frente ou para os lados (onde temos vários estímulos no nosso campo de visão).

Por isso também mantenha um caderno de sonhos. Além da questão terapêutica de podermos analisar nossas sequências de sonhos e perceber o que nosso inconsciente anda matutando enquanto dormimos, é frequente que acordemos com boas ideias e "sacadas" provenientes dessa rearrumação do tal "mosaico" das nossas ideias ao longo do sono. Por que não tentar?

6. Separe tempo para as suas ideias


"Mesmo os raios do poderoso sol precisam de uma lupa para queimar uma formiga" - Alexander Graham Bell
Se precisamos de uma energia centrífuga - uma energia que nos tire do eixo comum ou da "zona de conforto" do nosso pensamento típico - para atrair ideias, conceitos e perspectivas novas, precisamos da mesma forma de uma energia centrípeta, que traga de volta esses novos dados, ideias e perspectivas para serem trabalhados em prol daquilo que desejamos. Não é à toa que o que desejamos é o ponto um, lá em cima.

Na nossa vida acelerada e multitarefas nem sempre temos o discernimento de que a maior parte das grandes ideias criativas e que tiveram um desenvolvimento proveitoso no mundo foram fruto de um esforço considerável de concentração em cima de um projeto. Então separe um tempo, respire fundo e produza com o material que você coletou usando as dicas acima! Junte todas as anotações, post-it, rabiscos, arquivos de áudio e submerja na sua criação. Se você pretende que outras pessoas acreditem nela no futuro, que tal começar se convencendo dela?

7. Observe conexões

"O que está acima é como o que está abaixo." - Hermes Trimegisto
Com todas as ideias anotadas procure conectá-las. O que faria um ponto chegar ao outro? Se elas não tem nenhuma semelhança, será que é possível relacionar elas por contradição? Elas se opõem? Oposição é uma relação! O que elas têm de comum? Será que uma poderia caber dentro da outra? Será que uma é um degrau para outra? E poderia ser? Numa linha do tempo qual delas viria primeiro? Por que?  Existem pessoas que conectam essas ideias para você? Existem situações que conectem essas ideias? Quais conhecimentos e habilidades estão envolvidos com cada uma das ideias e projetos? Se você investir em um conhecimento, curso ou contato que ajudaria a alavancar o maior número de projetos ou até a transformá-los, todos, em um único grande projeto, como seria? O que une todas essas ideias?

Percebendo a maneira como cada uma ideia se conecta com outra você pode criar grupos de ideias ou até mesmo estratégias específicas para realizar, para tornar real, cada uma delas em separado ou em conjunto. Muitos projetos meus só se tornaram possíveis porque soube amalgamar várias iniciativas em uma só e encontrar um mínimo denominador comum entre elas. Ou mesmo fora delas, como é o caso do meu livro "Café com Conto" onde, para alinhar todos os cinquenta e dois contos diferentes com temáticas e estilos de escrita diferentes (que fiz mais para me testar e brincar com a literatura, que amo) acrescentei cinquenta e duas receitas de café para tornar a publicação mais viável e ter uma "pegada" editorial e um público alvo para patrocinadores em potencial.

8. Observe sua forma de pensar e pergunte-se "por quê?"


"Curiosidade é a sede do espírito" - Samuel Johnson
Agora que você criou todas essas relações entre as suas ideias volte e pergunte a cada uma delas: "Por quê?". Será que necessariamente aquelas ideias que você entendeu como semelhantes são mesmo semelhantes? Se elas se opusessem, como seria? E as relações de diferença, o que tem de semelhante entre elas? Por que determinados temas são agrupados em um conceito e outros não? O que aquele conceito é para você?

Procure esclarecer suas próprias ideias sendo sincero consigo mesmo sobre elas. E se pudesse ser diferente, como seria? Existem outras formas de ver essas relações? Existem outras relações possíveis? E se fosse tudo ao contrário, mudaria muito ou ficaria exatamente como está? Pergunte-se! Extrapole exemplos na sua cabeça e no papel.

Nicola Tesla criava a maior parte dos seus experimentos apenas imaginando, passo-a-passo como cada um iria se comportar e podia antever se um experimento ia falhar e em qual etapa ele ia falhar antes mesmo de investir tempo e dinheiro nele. Foi um dos maiores gênios da humanidade, um dos responsáveis por conseguirmos ter a internet hoje em dia.

9. Use suas emoções!


"O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo." - Honoré de Balzac
Apaixone-se por suas ideias! Deixe que elas ocupem uma parte grande do seu tempo e da sua concentração! Não tenha medo de mergulhar nelas e agir no mundo "como se" elas já estivessem funcionando (a menos que isso inclua fazer dívidas com aquele dinheiro mágico de Hogwarts que chegará depois da carta e tal). Deixe-se envolver por suas ideias por dois motivos básicos.

1. Estados de espírito são contagiantes. Se você se apaixonar por sua ideia poderá transmitir, na sua respiração, na sua fala, no seu olhar e nos seus atos essa paixão para os outros. Ninguém tem certeza de nada na Bolsa de Valores, mas veja como os vendedores realmente levam aquela jogatina a sério e conseguem convencer várias pessoas a depositar fortunas num buraco negro cuja fórmula ninguém conhece porque não existe! 

2. Estados de ânimo exaltados (euforia ou desânimo) desencadeiam novas conexões sinápticas. Sob pressão - positiva ou negativa - nosso cérebro tende a processar mais rapidamente. Todo mundo que já se sentiu empolgado com uma ideia sabe como é. Todas as etapas acima acontecem com uma velocidade enorme. Quanto ao desânimo (e mesmo alguns casos mais leves de depressão), o quanto da nossa poesia, música, literatura e arte em geral não deve às vezes em que essa sombra abraçou as almas mais sensíveis e poéticas dentre nós?

Pense suas ideias e projetos sobre diferentes cores. Imagine seu projeto todo em lilás. Depois em verde musgo. Então amarelo brilhante, vermelho e laranja. Ouça músicas enquanto cria. Altere seu humor indiretamente e permaneça concentrado no processo. Veja o que acontece.

10. Ouça sua intuição (e adapte quando precisar)

"Provamos através da lógica, mas descobrimos através da intuição" - Henri Poincaré
Quando por algum motivo algo parecer "errado" ou "certo" e você não souber explicar como nem porquê, antes de discutir aceite e veja o que muda. Diga à sua intuição: "Tá bom, vou experimentar" e observe o que acontece. Muitas vezes os caminhos mais obviamente geniais estão nessas resistências nossas que não sabemos explicar e também, muitas vezes, quando forçamos uma solução que intimamente não nos parece "certa" só porque "foi assim que eu planejei desde o começo" estamos negando todo um novo mundo de aprendizagens necessárias do processo de experimentação criativa.

Criatividade também é aprendizado. E aprendizado engloba também eliminar muitas certezas para podermos abrir caminho para outras (ou para algumas dúvidas saudáveis, dúvidas potencializadoras)! Se pensarmos em termos de potencial criativo as perguntas são, em si, muito mais poderosas do que as respostas! É por isso que o trabalho como coach é um manancial criativo inesgotável! O coach é um profissional que vai sempre trazer novas e inquietantes perguntas para nós, fazendo-nos relativizar nossas certezas, ressignificar nossas experiências, repensar nossas crenças e valores e, a partir disso, despertar a centelha criativa da nossa própria autoria íntima.

E não há forma mais significativa de ganhar autoridade e autonomia sobre a nossa vida do que exercitando a nossa própria autoria.

Coach pessoal e profissional
Coach ontológico
Antropólogo e Cientista Político
Criador do Coach Quíron
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¹Dicionário Etimológico Nova Fronteira.

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