terça-feira, 17 de junho de 2014

Psicologia do Trabalho: o "Modelo 4-5-2"

"Em quê exatamente uma sessão de perguntas pode me ajudar a melhorar meu desempenho?" Essa é uma das questões mais comuns com as quais me defronto desde que comecei a trabalhar com o coaching e, para respondê-la em grande estilo, preparei uma releitura (a partir de uma abordagem típica do coach) de um modelo de competências para o mercado de trabalho.

É inegável considerarmos os fatores psícológicos quando estamos trabalhando. Seja individualmente ou em grupo nossa performance, velocidade, compreensão, criatividade e finalização da tarefa estão intimamente ligados à nossa vida mental. Se quisermos bem compreender o trabalho ou mesmo influenciar na sua produção, tornando-o mais criativo, dinâmico, empreendedor, coerente, focado etc, devemos nos atentar a como anda a nossa realidade interna e como ela se manifesta através de nossas ações, omissões, percepções, motivação e mesmo aprendizagem.

Logotipo da
Conference Board
O que vou apresentar nesse artigo é uma releitura das competências para o trabalho elencadas pela Conference Board do Canadá através das ferramentas do coaching. Essa releitura será, principalmente, uma forma prática de abordar intimamente um modelo aberto para o desenvolvimento de competências para o mundo do trabalho. Através dessa releitura feita à base de perguntas direcionadas  faremos um auto-exame sobre o nosso desempenho em relação a cada uma delas e criaremos novos caminhos dentro da nossa relação com o trabalho e desenvolveremos novas saídas e soluções criativas! 

Afinal, o que é trabalho?
A palavra trabalho vem do grego ponos que significa necessidade ou esforço - o que nos leva a compreender o porquê da mentalidade aristocrática grega ser avessa ao trabalho, considerado algo advindo da necessidade, logo, algo destinado aos escravos e pessoas menos abastadas. Depois o vocábulo evoluiu para o francês travail que provinha do latim trivalium que significava a canga do animal de tração (geralmente um boi). Por aí já podemos ter uma percepção da compreensão simbólica do trabalho para muitos de nós. A partir desse ponto o conceito de trabalho foi evoluindo da pena e do castigo, como podemos ver na questão do jardim do Éden, onde Adão e Eva são condenados a tirar o seu sustento do próprio trabalho, para as novas concepções onde se busca dignificar o trabalho e seus resultados e, depois, de forma cíclica, de volta para o nosso contexto onde a cultura do trabalho está num vácuo entre a dignificação do ser humano e a necessidade dos menos afortunados.

Trabalho significa, sinteticamente, uma atividade orientada para uma meta (cumprimento de uma tarefa), caracterizada por empenho sistemático e planejado de forças corporais, espirituais e psíquicas que servem para assegurar a manutenção da vida e a satisfação das necessidades. 

Trabalho e meta
A meta do trabalho exige força de vontade e uma compreensão geral da finalidade daquele trabalho. Precisamos querer fazer tanto quanto precisamos saber o quê e como faremos. Para executar uma tarefa, seja ela qual for, é necessário que tenhamos uma motivação específica, um empenho especial da nossa vontade tanto quanto que tenhamos uma noção clara de planejamento e controle das fases desse trabalho. 

Você sabe o que quer fazer? Sabe porquê quer fazer isso e não outra coisa? E como pretende fazer isso? Quais as condições mínimas para realizar o seu trabalho: tempo, ambiente, material, colaboração, segurança?

Abordagens e significado
Carequinha, o palhaço. Exemplo de trabalho como
missão e pleno de significado
Para que possamos descrever, compreender e influenciar no desempenho do nosso trabalho e mesmo do trabalho alheio é importante que compreendamos as motivações subjacentes a ele. Qual é o significado do seu trabalho para você? O que ele te traz enquanto ser humano?

Compreender essas questões tão diretas quanto pouco enfatizadas ultimamente é o que distancia ou aproxima nossa realização diária da nossa qualidade de vida e plenitude. Através delas podemos aperfeiçoar as práticas e mesmo ajudar as pessoas a encontrar um sentido no trabalho, além de conseguirmos desenvolver novas e maiores habilidades interpessoais, afinal, compreendendo a nós mesmos e às raízes das nossas perspectivas sobre o trabalho sempre abrimos espaço para compreender o outro, suas intenções, desejos e inquietações no mesmo contexto.

Ver o mundo, representar o mundo
Se no século XIX quase toda pesquisa da psicologia poderia ser descrita como "homogênea" com seus métodos e focos de estudos semelhantes, atualmente temos as mais diversas linhas de pesquisa e leitura da realidade psicológica. Desde a psicologia humanista, à psicologia analítica, arquetípica, à abordagem lacaniana focada no discurso ou mesmo das abordagens que se aproximam das neurociências. Independente da área de foco do estudo da psicologia o que temos como resultado de um aprofundamento em qualquer uma delas é o aumento da compreensão dos fenômenos da consciência e de como eles afetam nossos processos organizadores das nossas condutas. 

Sinceramente creio - e aqui vai uma opinião completamente pessoal - que cada ser humano possui um conjunto muito particular de peculiaridades específicas que o tornam único. Portanto talvez o modelo lacaniano possa descrever e compreender ou mesmo influenciar o entusiasmo para o trabalho do João, mas não surtir quase nenhum efeito em Pedro, seu irmão. O mesmo se aplicando para todas as demais formas de psicologia. Meu aparato mental funciona muito bem pela psicologia analítica, pela vertente de Carl Gustav Jung, mas isso não significa em absoluto que isso vá se aplicar aos meus pais ou aos meus futuros filhos. 

Portanto, na medida em que eu não estou certo sobre as surpresas e desafios que me aguardam no caos do mundo "lá fora", quanto mais ferramentas de análise e percepção eu tiver, melhor. Mas essa é só a minha perspectiva, não é nem única, nem tem a pretensão de ser "correta". É apenas funcional, para mim. E qual é a sua? O quão importante você crê que seja ter uma consciência clara da sua leitura do mundo? O quanto isso deve influenciar na forma como você vê e cria o seu trabalho? 

Pesquisas sobre trabalho
Uma pesquisa realizada por Aiken et al (1994) revela que os empregadores esperam que os formados em administração tenham desenvolvido as competências seguintes: habilidade para se comunicar e se entender com os outros, capacidade e vontade de aprender, pensamento crítico e criatividade. Eles deverão também ter desenvolvido qualidades pessoais como a 'confiabilidade' (honestidade), a iniciativa e a liderança.



Sejamos honestos!
Qualquer um de nós, envolvido no mundo do trabalho sabe como determinadas qualidades são enfatizadas e reforçadas no discurso e, quando colocadas em prática no mundo do trabalho, geralmente são podadas em suas próprias raízes. Todos os empregadores e RH´s dizem que querem funcionários com pensamento crítico e criativos, mas nem todas as empresas estão prontas para esse perfil profissional questionador e inovador. Principalmente se ele tiver uma perspectiva de contexto político ou ecológico muito clara e um posicionamento muito acirrado. Nesse ponto, quando se sentem acuados pelos próprios funcionários que tanto elogiam, os discursos do mundo do trabalho recorrem a subterfúgios convenientes como a "flexibilidade" ou a "resiliência" (sobre a qual já escrevemos antes).

Mas deixemos a percepção política profunda dos interesses por trás do discurso do trabalho para outros artigos futuros. Como evoluíram as percepções de competências para entrar, permanecer e progredir no mercado de trabalho?

"O modelo 4-5-2" (eu que chamei assim, para facilitar)
Existem tantos modelos de comportamento para tanta coisa atualmente, não é? Se você está acostumado a ler meus artigos já sabe, de antemão, que sou extremamente crítico com esses excessos, modismos e recortes. Vejo a maior parte deles como padronizações fechadas que criam mais problemas do que seu potencial para solucionar qualquer questão no mundo. Mas eventualmente alguns modelos são criados através de uma perspectiva que deixa aberturas para a criatividade, a inovação e a mudança e esses modelos abertos são dignos da nossa atenção, seja como coaches ou como profissionais. 

A Conference Board do Canada descreveu um modelo desses traçando o perfil das competências que os empregadores buscam e subdividiu elas em três grupos: Competências de Base, Competências Pessoais e Competências para o Trabalho em Equipe.
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Competências de Base: Consistem em comunicar, administrar a informação, utilizar números, refletir e solucionar problemas. Essas competências são geralmente adquiridas na escola e no âmbito das formações especializadas.
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Competências Pessoais: Consistem em ter atitudes e comportamentos positivos, em ser responsável, em dar provas de flexibilidade, em aprender continuamente e trabalhar respeitando os requisitos de segurança. Essas competências são adquiridas e reforçadas ao longo do desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo; elas implicam a consciência e o conhecimento de si mesmo, de suas atitudes e seus comportamentos, em diversas situações, entre elas a situação de trabalho. 
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Competências para o trabalho em equipe: Consistem em saber trabalhar com outros e participar de projetos e tarefas. Essas competências podem ser adquiridas por meio de formação especializada, treinamento, coach, implicam o conhecimento e a compreensão das relações humanas, das relações de influência nas equipes de trabalho e dos fenômenos de grupo.

Através delas desenvolvi as questões a seguir, para fazermos uma anamnese, uma releitura pessoal das nossas competências no trabalho e de como podemos repensá-las de forma mais criativa, entusiasmada e proveitosa:

Competências de Base: Comunicação, Criação, Números e Problemas (4)

Comunicação
1. Você procura ler e compreender as informações que te chegam através de formas variadas? Por exemplo: quando você lê uma notícia no jornal procura ver os interesses subjacentes a ela? A quem aquela notícia agrada ou desagrada? 
2. Sua escrita e fala são alinhadas? Seu discurso por escrito combina com a sua fala cotidiana ou eles apresentam diferenças? Se existem diferenças quais são e por quê você acredita que elas estejam aparecendo?

3. Você efetivamente escuta e faz perguntas para efetivamente saber o que as outras pessoas estão pensando? Você realmente se importa com a leitura que as pessoas fazem do seu trabalho? Faz diferença se importar ou não? Qual? Como isso influencia você? 

4. Você disponibiliza informação por meios digitais? Facilita para que outras pessoas compreendam a sua visão do trabalho?

5. Você usa competências tecnológicas, científicas, artísticas ou matemáticas para explicar suas ideias? Ou seja: você procura abarcar outras formas de compreender o mundo quando está explicando suas ideias? Você acha que a mudança de linguagens afetaria de que forma na compreensão sobre o seu trabalho?

Criação
6. Você localiza, coleta e organiza informação utilizando sistemas coerentes e adequados ao seu contexto? Se você fosse criar algo para te ajudar nessa organização de informações, o que seria? 

7. Você consulta, analisa e aplica conhecimentos de diversas disciplinas no seu trabalho? Acha importante fazer isso? 

Números
8. Você decide o que deve ser medido ou calculado? Toma decisões baseadas em cálculos? Quais? Por que? 

9. Você observa e salva informações baseadas em métodos, instrumentos e tecnologias de pesquisa? Ou você cria sua própria metodologia? Se pudesse melhorar esse sistema, como faria?

10. Seus cálculos levam a estimativas? Você planeja seu futuro profissional?

Refletir e resolver problemas
11. Você avalia situações e cerca problemas? Ou você certa soluções? Para que lado se orienta seu foco quando se defronta com um problema?

12. Você busca diversas opiniões e as avalia objetivamente? E acha interessante avaliá-las subjetivamente também? Aliás, você consegue fazer bem essa distinção? 

13. Você reconhece as dimensões humanas, interpessoais, técnicas, científicas e matemáticas de um problema? E consegue trabalhar com elas separadamente ou organizá-las por áreas, nitidamente? 

14. Você tende a procurar identificar a fonte de um problema? Ou tende a "apagar incêndios" constantemente? 

15. Você tende a procurar soluções externas ou internas para um problema? Costuma ser criativo nas resoluções? 

16. Você utiliza sem dificuldade a tecnologia para refletir, adquirir e compartilhar o saber? E para tomar decisões?

17. Você avalia possíveis soluções para recomendar ações e tomar decisões ou prefere acreditar nas soluções que estão em voga no mercado? Onde isso tem te levado? O que você poderia fazer melhor? 

18. Você costuma procurar aperfeiçoar a eficiência de uma solução do passado? Se sim, como? Se não, por quê?

Competências pessoais: Foco positivo, Responsabilidade, Flexibilidade, Aprendizagem e Segurança (5)
Foco Positivo
19. Você se sente bem consigo mesmo e procura ser confiante nas suas habilidades? Costuma focar no que é capaz de fazer e não em suas inaptidões? 

20. Costuma abordar as pessoas, os problemas e as situações de forma honesta e moral? Se fosse possível mudar algo neste quesito, o que mudaria? 

21. Você costuma reconhecer o valor do seu trabalho e do trabalhos dos outros? De que forma? Se pudesse melhorar essa relação de reconhecimento, como faria?

22. Você prioriza a sua saúde? 

23. Você manifesta claramente seus interesses, dá provas de iniciativa pessoal e do seus esforços?

Responsabilidade
24. Você fixa objetivos e prioridades? Mantém um equilíbrio entre suas responsabilidades pessoais e suas responsabilidades no trabalho? Se necessário, como poderia melhorar essa relação?

25. Você planeja e administra o seu tempo? E seus recursos? Nesse planejamento qual é o peso dos seus objetivos atuais?

26. Você avalia e administra os riscos das suas atitudes? 

27. Você toma a responsabilidade pelas suas ações e pelas ações do grupo no qual está inserido? E como é isso? Como você poderia tornar essa relação melhor? 

28. Você acredita que contribui para o bem-estar da comunidade e da sociedade como um todo? Se não, como poderia contribuir? A partir de quando?

Flexibilidade
30. Você trabalha melhor de maneira autônoma ou em equipe? Caso haja alguma melhoria possível, onde ela seria? E de que maneira? E quando você pode começar ela?

31. Você executa tarefas ou projetos múltiplos? Se sim, como pode fazê-los com mais perícia? 

32. Você se considera inovador ou especialmente engenhoso no seu trabalho? Procura maneiras alternativas de atingir seus objetivos? 

33. Você considera que reaja positivamente a mudanças? O que é reagir positivamente para você?

34. Você tira proveito dos seus erros e aceita feedbacks(retornos críticos e construtivos sobre o seu trabalho)? Como poderia utilizar da melhor forma os feedbacks que recebe?

35. O quanto você se sente capaz de conviver com a incerteza? 

Aprendizado
36. Você está realmente disposto a aprender e a
crescer com as adversidades no seu trabalho? De que maneira você já fez isso? De que maneira você pretende continuar fazendo isso?

37. Você avalia suas forças pessoais e define pontos a melhorar? 

38. Você fixa seus objetivos de aprendizagem? Como? Segue eles? Como poderia melhorar isso?

39. Você identifica e recorre a fontes e ocasiões de aprendizagem? De que maneira? 

40. Você fixa e atinge seus objetivos? De que forma? Como poderia fazer isso de forma mais criativa e funcional?

Segurança
41. O quanto você conhece de práticas e procedimentos de saúde pessoal e coletiva e introjeta elas no seu dia a dia? Quais são as consequências que você já sente na maneira como você trata da sua saúde física e mental no trabalho? Se continuar como está agora, onde você vê a sua saúde em dez anos? Se pudesse mudar a trajetória de alguma forma, como faria isso? 

42. O quanto você está disposto a ter uma vida saudável?

Competências para o Trabalho em equipe: Trabalho com outros e Participação em projetos e tarefas

Trabalho com outros

43. Você procura compreender e se ajustar à dinâmica de um trabalho em grupo? Se necessário, como poderia melhorar isso?

44. Você cuida para que os fins e os objetivos da equipe sejam claros para todos? De que maneira? Como poderia torná-los ainda mais evidentes?

45. Você se considera flexível em grupos? respeita, acolhe e apoia ideias, opiniões e contribuições dos outros membros da equipe? Se necessário, como acredita que poderia ser mais flexível e acolhedor?

46. Você reconhece e respeita de verdade as diferenças de perspectivas dentro de um grupo? Como isso afeta o seu trabalho? Como você poderia melhorar isso?

47. Você contribui para o sucesso da sua equipe compartilhando informações e a sua experiência? De que maneira? Procura aprender com a experiência alheia? Se precisasse melhorar isso, como faria?

48. Você dirige, apóia ou motiva a equipe para uma performance melhor? De que maneira? Como você acredita que poderia fazer isso ainda melhor? 

49. Você compreende o papel do conflito em uma equipe para gerar novas soluções? Como você lida com isso? De que forma você poderia ampliar essa relação com o conflito e retirar maiores aprendizados dela?

50. Você administra e procura resolver os conflitos? Como poderia fazer isso de forma mais pontual e proveitosa? 

Participação
51. Você planeja, concebe ou implanta um projeto ou tarefa, do começo ao fim, direcionando-o para as metas e os resultados esperados? Se você para em algum ponto, qual o motivo disso? O que aconteceria se você seguisse em frente? E depois?

52. Você utiliza bem os feedbacks que surgem durante o seu trabalho? Testa eles? De que maneira? 

53. Você reserva um tempo para escolher os instrumentos e tecnologia adequados a uma tarefa ou a um projeto? De que maneira? Como poderia fazer isso ainda melhor? 

54. Você se adapta a exigências ou informações sujeitas a mudanças? Como você lida com o inesperado? O que você aprende com isso? O que você aprende sobre você com isso? O que você pode fazer melhor?

55. Você supervisiona projetos ou tarefas e procura identificar meios para aperfeiçoá-los? 

56. O quanto você valoriza a participação de cada pessoa nos seus trabalhos em grupo? Isto está claro para todos? De que maneira isso iria afetar o trabalho como um todo? Como você poderia deixar isso ainda mais claro?


E aí? Valeu a pena tirarmos um tempo para repensar nossas formas de trabalhar e os resultados que estamos obtendo?

Por que não marcar uma sessão grátis e aprofundar esses aprendizados, conhecer novas técnicas, elaborar novos projetos, dar mais significado ao seu trabalho?

Será um prazer recebê-lo(a)!
Marque sua sessão através dos contatos: renatokress@gmail.com ou (21) 9-8243-5513


Um forte abraço e até amanhã com a nossa Estratégia Social!

Renato Kress
Criador do Coach Quíron
Antropólogo e Cientista Político
Coach Ontológico
Coach Pessoal e Profissional

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