quinta-feira, 17 de julho de 2014

[Artigo revisitado] 9 Temas Estratégicos para a Vida

"Existem vários caminhos. Há o Caminho da Salvação pela Lei do Buda, o Caminho de Confúcio que governa o Caminho do Aprendizado, o Caminho da cura como médico, como poeta ensinando o caminho de Waka¹, chá², arco e flecha³ e muitas outras artes e escolas. Cada homem pratica de acordo com sua inclinação." - Miyamoto Musashi, Livro da Terra, in: Livro dos Cinco Anéis (ou Livro das Cinco Esferas)
1. Tudo está em movimento
Heráclito, primeiro
filósofo do ocidente
a tratar do tema da
transitoriedade
do universo
Para Musashi, o lendário espadachim japonês, o caminho do Guerreiro é o caminho que leva à aceitação resoluta da morte. A morte, para uma cultura taoísta como a de Musashi, é a aceitação da eterna impermanência. Impermanência de nossos corpos, que envelhecem desde o dia em que nasceram, de nossas situações cotidianas que se transmutarão em outras, de nossa compreensão de nós mesmos e do universo que nos cerca. As configurações políticas e sociais estão em movimento tanto quanto nossas células e nossos pensamentos.

Para quem tenha a sensibilidade correta ao ler o Livro das Cinco Esferas, tornar-se um guerreiro, ou melhor, assumir o "caminho do guerreiro", é aceitar a mudança que se espera de toda ordem constituída. A vida é passagem e quem se perder nas margens do rio da vida na busca pela eterna infância, juventude ou mesmo eterna velhice, não pode assumir esse caminho, viver esse fluxo. Não há vida fora da mudança e toda mudança envolve uma despedida que pode nos trazer alívio ou dor.


2. O Caminho da Estratégia
Exemplo gráfico de escala de valores.
Mas é sempre melhor criar o seu.
Os praticantes do caminho do guerreiro são conhecidos como "mestres da estratégia". A aceitação resoluta da morte, num contexto estratégico, nada mais é do que um bom exercício do que no ocidente denominamos "trade-off", saber abrir mão de algo (deixar algo morrer) para obter algo de maior valor para nossas vidas. Estamos em eternas pontes saltando de um ontem que não se repetirá em direção a um amanhã com uma boa dose de incerteza.

Gostaria de deixar claro aqui que quando uso o termo "valor" quero dizer "significado" e não explicitamente "dinheiro", "posição" ou "poder", a não ser que "dinheiro", "posição" e "poder" sejam seus valores primários, aquilo que efetivamente dá significado à sua existência. Então, entre nós, aqui no texto, "valor" é tudo aquilo que traz maior significado às nossas vidas.

3. Desenhe uma árvore...
E se parássemos para fazer uma escala dos nossos valores? Amizade, lealdade, honra, quais lhe vêm à mente no momento? E desses, quais seriam as bases? Numa árvore de valores, quais seriam suas raízes e quais seriam seus galhos? O que te faz ser quem você é?



"Recentemente têm surgido no mundo pessoas chamadas de estrategistas, mas no fundo não passam de esgrimistas." - Myiamoto Musashi

4. É tudo fumaça e espelhos

Vivemos num universo onde a mídia cerca e explode em multicores quando um envolvido em uma disputa comercial, industrial, política ou financeira atinge uma vitória. Tendemos a atribuir ao sujeito da vitória, ao vitorioso, títulos de estrategista, de grande guerreiro e de líder etc. Podemos até acreditar que livros como "A Arte da Guerra" de Sun Tzu estejam ultrapassados, que seus critérios de "vencer sem guerrear", "vencer o inimigo por cansaço antes mesmo de entrar em batalha", "cooptar as mentes dos soldados do inimigo antes de enfrentá-los" etc estejam ultrapassados, afinal, o que as grandes revistas de negócios, os grandes livros e os grandes gurus nos apresentam é um mundo de grandes líderes em disputa acirrada, clara e aberta uns contra outros.
Hipercompetitividade é isso: o outro jogador perde a bola,
mas você sai da partida. Tão ineficaz quanto infantil.
Mas se vende antidepressivo e calmante, ela interessa
a quem mesmo?


Mas será que essas revistas não têm nenhum interesse? Será que elas não são patrocinadas por nenhum interesse? Quem paga a moda da ultracompetitividade? E paga com recursos infindáveis, ou com recursos finitos? E se esses recursos são finitos, porque se investe nisso? 


Como sempre as perguntas certas nos levam além, muito mais do que quaisquer respostas pré-fabricadas, não é mesmo?

5. Essência e aparência
O mundo da mídia pode se esgoelar para vender a cada um de nós a ideia de que a competição acirrada, a hipercompetitividade a qualquer custo é o caminho do "líder", do "guerreiro", do "estrategista", mas ele não pode negar o fato de que a Google, por exemplo, tem 4 décadas a menos do que a TimeWarner e tem o lucro líquido quase duas vezes maior. A diferença? A TimeWarner é a maior difusora da ideologia da hipercompetitividade no mundo e a Google não vende, mas efetivamente vive a ideologia da hipercolaborativiadade (se não existe acabei de criar a ideia), dentro e fora da empresa.

A quem interessa que nós permaneçamos sempre competindo, nos exaurindo, nos cansando, dispersando energia e recursos? O que consumimos quando estamos cansados? Ou melhor: de que maneira consumimos quando estamos exaustos? 


6. Competição e criação

Competir e destruir ou colaborar e criar?
Impulsos de morte e de vida em eterno conflito em nós.
A aparência da hipercompetitividade não encobre a essência de que quem está na frente não compete, cria! Só me interessaria que meus "concorrentes" competissem se eu vivesse no eterno medo, no pânico completo de que, uma vez deixados em paz, eles pudessem "crescer" e "me passar".

Essa é a ênfase normal na mente de um covarde, não de um guerreiro. A mídia corporativa, tal qual a mídia social, incentiva a covardia pela incitação do medo. Só quem é muito inseguro acerca das próprias potencialidades, das próprias habilidades e do próprio conhecimento consegue viver nessa lógica. Não é o caso de um guerreiro, de um artista, de um homem ou mulher que, em maior ou menor escala, seguiu e lutou por seus sonhos.

Quantos projetos você abandonou por medo esse ano? E ano passado? Quanta vida te pulsa em latência enquanto o tempo, impassível, passa?



7. A venda e os critérios para a compra

"Se observarmos o mundo, veremos artes à venda. Os homens usam equipamentos para vender a si próprios. É como se a noz valesse menos que a flor. Nesse tipo de 'Caminho da Estratégia', tanto aqueles que ensinam quanto aqueles que aprendem o caminho ocupam-se de exibir a técnica, tentando apressar o desabrochar da flor. Falam 'deste Dojo' e 'daquele Dojo'. Estão à cata de lucros. Alguém afirmou uma vez: 'A Estratégia Imatura é a causa do sofrimento'. É verdade." - Miyamoto Musashi

Impressionante como parece que Musashi viveu nesse mundo, não? É natural aos que captam a essência do ser humano. Por isso determinadas leituras se tornam clássicos, porque seus autores captaram algo de próprio da natureza humana. A palavra "Dojo", significa "escola". E não vivemos hoje uma difusão de escolas e métodos de liderança, estratégia etc? E só há uma maneira eficiente de verificar a validade dessas escolas e métodos: aproximarmo-nos delas cautelosamente nós mesmos (pouquíssimo e raramente pela mídia, ela é paga para agir e age segundo quem paga) e observarmos o que seus representantes escrevem diretamente, o que falam e o que fazem, observar-lhes a coerência interna e, principalmente, se seus valores e crenças condizem com os nossos valores e crenças.
Crianças aprendem com exemplos.
Somos levados a aprender com
discursos. Que aprendizado você
julga melhor? O que nos leva a
cada um deles?


8. Maturidade e diferença

Uma das maiores compreensões para o ser humano, talvez o grande discurso desse milênio, é a aceitação da diferença. Aceitar que a diferença existe e que não somos todos iguais é compreender, entre outras coisas, que há espaço para a diferença e que a "técnica" que funciona para o meu vizinho ou para o meu colega pode não ser a mesma que funciona para mim. 

Toda conduta humana está alicerçada em valores. Ora, uma técnica de liderança, uma "escola" de estratégia empresarial treina e às vezes até impõe uma determinada conduta, que está baseada em um conjunto de valores. É necessário observar bem esses valores, para termos certeza se eles efetivamente são congruentes com os nossos ou não. Do contrário incorreremos em adotar uma postura esquizofrênica em nossas vidas e, mais cedo ou mais tarde, isso desembocará num desequilíbrio físico ou mental. E quem vai se beneficiar desse desequilíbrio se não as indústrias farmacêuticas que tenham se esquecido dos valores de cura em nome dos valores do lucro interminável? Te interessa essa vida de refém?

9. Foco nos interesses, seus e alheios

Se há algo simples que podemos tirar da leitura de Musashi, Sun Tzu ou Maquiavel é: Esteja sempre atento aos interesses e aos valores por trás do que "consumir" mentalmente, fisicamente, financeiramente. É a sua integridade e a sua possibilidade de crescimento sadio ou patológico (doentio) que estão em jogo.

Renato Kress
Coach Quíron


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