quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Intervalos

Cansado de chamarem o amor romântico de "mito". Ele é um tipo de comportamento entre díades que é possível, não deveria ser uma imposição, mas não é porque não aconteceu com você que ele absolutamente não existe, ou é "impossível". E se as possibilidades do mundo não girassem ao redor das suas experiências? Já pensou que louco?
Mas quem chama de mito erra duplamente. Primeiro porque para variar quem faz isso nao conhece o significado da palavra "mito" - mythos, "narrativa sagrada" - que não tem nada a ver com a atribuição de sentido que se dá ao vocábulo como "mentira". Mas o mais importante é que conheço vários casais super românticos e que genuinamente se amam (o que obviamente engloba eventuais desentendimentos porque eles são - pasme! - humanos, orgânicos, perecíveis, falíveis etc).
A expectativa surreal, desumana e midiática da manutenção estática e cristalizada da "perfeição" é que broxa os momentos reais de perfeição. Faz com que eles passem sem que ninguém perceba. Ainda mais com nosso condicionamento midiático e cultural para focar no erro, no problema, na falha. Perdemos a genuína felicidade que, no geral, não passa de momentos de descuido da nossa expectativa doentia.
E se felicidade for o intervalo entre duas expectativas?

Renato Kress

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