quarta-feira, 2 de setembro de 2015

[Storytelling Coach] Quem pode abrir a sua porta?

Eventualmente alguns clientes nos lembram histórias sensacionais da literatura universal, contos de fadas, folclores ou mitos. É como se nós percebêssemos o elo entre um escritor, uma lenda ianomami, um conto africano e aquele exato momento em que o seu cliente está passando. O que nos cabe? Alicerçar e pavimentar a primeira ponte, aquela que ligará a situação do cliente (coachee) a uma forma específica como aquela mesma sensação, momento ou história está se repetindo, com novos detalhes, em nova face, naquela vida à sua frente.
Esses dias me lembrei de uma história que acho que é do Kafka, mas para ser sincero não me lembro com certeza do autor. Ela era mais ou menos assim (estou reescrevendo com minhas palavras, mantendo apenas a essência da história):
"Então ele andava tenso por aqueles corredores estreitos onde gravatas e tailleurs passavam esvoaçando embebidos em uma qualquer certeza da qual ele não fazia parte. Estava perdido. Completamente desnorteado dos ventos secos de salas frias que se abriam vez por outra começando ou finalizando diálogos mais em maçanetas que em pontos. Nesse compasso tropeçou num menino que seguia com um carrinho de brinquedo sendo puxado por uma mão de mãe. Nesse tropeço se escorou numa porta. Uma porta igual a todas as demais portas. Idêntica a não ser pelo fato de que nessa porta estava escrito o seu nome. Não o seu primeiro nome, mas todo o seu nome, completo, por extenso. Enquanto ajeitava os óculos para reler, incrédulo, aquela plaquinha prateada, ouviu uma voz grave e intensa, vinda do seu lado esquerdo.
- Olá, está procurando algo?
- Não exatamente. Obrigado. Essa sala é de quem?
- Não está na porta? Como todas as demais?
- Sim... mas então essa sala é minha!
- Esse é o seu nome?
- É.
- Então é sua. Sem dúvida.
- Posso entrar?
- ...não.
Ele se resignou e foi embora. Atônito e incerto, ainda mais confuso do que quando entrou pela primeira vez naquela repartição pública. Havia uma porta com seu nome. Uma porta com um letreiro prateado e o seu nome. Por extenso. Não havia dúvidas. Mas, por que ele não podia abri-la?
Voltou outros dias. Semanas. Meses. Sua agenda passou a ser acordar, tomar seu café, apressar até a sua porta, perguntar se já poderia abri-la e ir ao trabalho. Alguns dias ele saía na hora do almoço apenas para ir lá perguntar.
Um certo dia de um certo mês encontrou o porteiro emparedando sua porta, com plaquinha metalizada e tudo! Foi a gota d´água!
- Como você ousa emparedar minha porta?
- Sua porta?
- Sim, veja, meu nome aí na linha dos tijolos!
- O senhor entrou alguma vez por ela?
- Você mesmo me disse que eu não poderia! Todos os dias! Está louco?
- Louco? Louco eu seria se perguntasse a qualquer pessoa se posso abrir a minha própria porta!"

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