quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Coach, meta e criação



“Não existia nem morte nem imortalidade então. Não existiam as distinções de noite e dia. O Uno respirava pelo próprio poder, em paz profunda. Apenas o Uno existia, nada além dele. Escuridão escondida na escuridão. O Todo era fluido e sem forma. Depois, no vazio, pelo fogo do ardor, nasceu o Uno. E no Uno nasceu o desejo, a primeira semente do espírito.” – RigVeda X, 129




Bem no íntimo de nossos estados mais confusos, na nossa mais íntima incerteza submersa em caos e receios existe uma tensão criativa, uma tensão criadora, um exercício da vontade em latência para formar um novo mundo. Apodere-se, onde estiver, dessa força, é ela que moldará o teu destino, pelas rédeas que só você, com graça e força, pode mover.


A citação com que começamos esse texto foi escrita pela tradição poética dos vedas indianos. Tenho carinho pelos autores, gosto que meus leitores observem, conheçam e se identifiquem com eles, então segue algo sobre o poeta védico: O poeta védico é um “visionário”, um mediador entre a realidade absoluta que se deixa ver apenas por ele e os homens para quem procura narrá-la, forçando a linguagem a exprimir o inexprimível, roubando das palavras o seu poder mais sagrado. O poeta védico é aquele cuja percepção alcançou o espaço entre a palavra e o ato, aquilo que os cristãos chamam de "verbo", o grande poder que anima a terra, o poder de animar, de dar alma, de criar.


Criação e aceitação da realidade
Toda a compreensão, a fina compreensão metafísica, filosófica e moral dos Upanishades – textos sagrados indianos – está (provavelmente) inserida na inspiração poética Tat tvam asi ou “todo este universo é você”. Se compreendermos que tudo o que vemos só nos é visto através das formas e estruturas através das quais estamos fadados a ler e a interpretar o mundo – nossos valores, nossa família, criação, desejos, vícios e perspectivas criadas e alimentadas por nossas experiências comprobatórias ou falsificadoras – poderemos perceber que linda compreensão da realidade é ver que o mapa que temos da realidade é só um mapa, nunca a realidade, que ele não é mais verdadeiro ou lícito que qualquer outro mapa e – talvez o principal – que é a partir das trocas com outros mapas da realidade que o mundo adquire formas e cores e sons e cheiros e vida diferentes, únicas, mágicas.

Que incrível passa a ser então o conhecer o mapa alheio, conhecer o mundo alheio! Ele é a possibilidade de melhorar nossa comunicação, de ampliar o nosso mapa e também o nosso mundo! Então transformamos nossa leitura do mundo e com isso transformamos nosso mundo!
Genialidade e criação
Disney dizia que se ele era capaz de imaginar ele era capaz de criar. É uma consciência plena. É uma consciência universal, quântica. Tão complexa e simples como a de um físico quântico brincando com ondas e partículas em laboratórios submersos sob vigilância, protocolos e sigilos.

Einstein dizia que a imaginação é mais importante que o conhecimento e um antropólogo espanhol cujo nome sempre me escapa me trouxe um dia, entre letras, a clara compreensão de que "o que existe é ainda uma pequena parte do que é possível"! Os mundos criáveis são sempre mais numerosos do que a nossa frágil “realidade”, cuja compreensão necessita de lentes, mapas, sempre impuros, sempre parciais. 

O ser humano, quanto mais pleno menos se deixa ser um mero reprodutor de padrões previamente estabelecidos. Ele não apenas reproduz a cultura, a crença, a moda, a arte, o gesto, a dança, não! Ele cria! Escolher participar de um processo de coaching é assumir simultaneamente seu poder criador e sua responsabilidade por esse poder criador. Sem criação não há movimento, não há "coaching". Coaching é uma atividade criadora e "criar" é a força que move o mundo.

O mundo como vontade e ato
Somos a soma constante do que fizemos e fazemos. Aristóteles diria que “somos aquilo que constantemente fazemos”. A força de um ato é onipotente; nada no mundo pode ser a ela relacionada. 

“Os atos acumulados no tempo perseguem seus autores, como o credor persegue o devedor, sem concessões” – RigVeda I 347,348.

O mundo, a realidade, é caos. É submersão de desejos, vontades, possibilidades, leituras e interpretações possíveis num caldeirão condicional de "se's" e "quando's ". Até quando se pode procrastinar a tomada das rédeas da própria vida? Eternamente. A grande pergunta é: Que vida se leva agindo dessa forma? Qual o mérito da vida que se leva agindo dessa maneira? Aí reside a verdadeira questão. 

Escolher uma possibilidade, caminhar em direção a uma realidade dentre todas as potencialidades é um ato de vontade, um ato de coragem, de liberdade e responsabilidade. Que liberdade haveria se não fosse manifestada em ato? A liberdade de observar o passo flácido do tempo se esgueirando pelas possibilidades que se distanciam? Que liberdade existiria sem responsabilidade? A liberdade infantil, neófita, de um ser plenipotenciário mimado e imaturo? Escolher requer uma parcela de poder, liberdade, responsabilidade e maturidade para a qual estaremos eternamente nos preparando. Por isso a vida é, como bem dizia Guimarães Rosa, “apenas aprender a fazer outras maiores perguntas.”

Talvez agora você se pergunte porque escrevo em termos míticos. As narrativas míticas, a linguagem ritual, a indagação crítica e racional, a contemplação interior são caminhos de conhecimento que não se anulam, mas completam-se e oferecem uma gama multicolorida de possibilidades para o grande desafio, o fim mais elevado, a realização plena da "verdade" que é sempre pessoal e só assim pode ser plena. As grandes verdades são missões pessoais, são vocações. Grande parte dos erros da humanidade está em projetarmos nossas vocações, verdades e vontades sobre as vidas alheias.

Porque "verdade" entre aspas? Toda verdade é parcial, seja ela pessoal ou coletiva, uma verdade íntima, um tabu cultural, uma instituição social. Afinal, se tudo é plástico e somos todos únicos, porque não criar sua verdade íntima? E depois mudar tudo isso, pelo simples prazer de exercer nossa vontade e liberdade e responsabilidade e curtir nosso mérito pelos nossos atos através do tempo? Criemos, vivamos!

Palavra, prática, poder
A palavra que designa essa energia necessária para a criação, a palavra-energia-matéria primordial que engloba a relatividade einsteiniana (E=MC2 energia = massa multiplicada pela energia cinética ao quadrado, ou seja: energia = massa em movimento) em sânscrito é prakrti e é através dessa interação que afloram à vida as formas. Não parece singularmente interessante que essa palavra seja semelhante foneticamente à palavra portuguesa “prática”? 

Poderíamos brincar com algumas verdades em relação à “prática”, que tal: “A prática leva à realidade”? Pode ser uma boa forma de compreender porque o discurso ocidental procura banalizar a prática em prol da teoria. É perigoso que as pessoas tenham poder, que se tornem conscientes, maduras. Eu posso não mais precisar da nova coleção da loja X para ser feliz, pleno e completo até que a próxima coleção apareça para jogar na minha cara minha incompletude, minha insatisfação, minha pequenez e estranheza. Mas e se eu praticasse minha integridade e completude apesar dos apelos do hiperconsumo? É algo a se pensar.

"O aprender está no agir" - João Guimarães Rosa


Certezas e alicerces
Existe um conceito chamado purusha, que significa "de onde emanam os mundos". Mas essa emanação é desprovida de manutenção através do tempo, é como uma ideia que nasce e morre, mas é responsável pela criação de uma realidade. Se ficarmos sentados no sofá tendo idéias mirabolantes sem colocá-las em prática estaremos assassinando todos os pequenos filhos, as pequenas e infantis ideias que insistem em nascer, que insistem em nos procurar nos momentos mais inoportunos. Renegá-las é também negar nossa vida interior, nossas sementes íntimas, querendo nascer.

Aceitar essas idéias, dar a elas tempo e ato é criar a certeza. Para que uma realidade possa se sustentar é necessário que haja uma viga mestra, uma certeza. Com o tempo o excesso da realidade forçará o alicerce dessa certeza, que acabará ruindo. A arte de viver está em saber refundar, eternamente, novas certezas. Tenho certeza de que o processo do coaching acelera o desenvolvimento das metas e a realização de meus clientes. E tenho certeza de que essa certeza é como todas as demais certezas ao longo da vida: parcial e necessária para que possamos criar algo. É uma certeza orgânica cuja plenitude vital deve ser honrada com nossos atos. Se eu não honrar minha certeza com dedicação constante, ela se esvai, se enfraquece, trinca e racha.

A vida vem em ondas como o mar...
A vida possui movimentos centrípetas e centrífugas e é do movimento da energia entre essas ondas de compreensão e criação e incompreensão e dissolução que se estabelecem as realidades. Nada é eterno e, no nosso curto espaço de tempo, muitas coisas podem se tornar eternas, se souberem mudar, antes que seja necessário.


Jogos
Pessoalmente sempre preferi a concepção dos jogos para agir sobre a vida. Como se nada fosse tão cristalizado, cimentado, pleno, incorruptível ou sério como se propõe a ser. Mesmo que sempre compreendesse a necessidade dessa certeza da seriedade e cristalização para a construção, algo em mim sempre intuiu a plasticidade e fugacidade das certezas, o que me leva a pensar o humor. O humor é um dos poucos sustentáculos viáveis à uma compreensão leve do mundo. 



Há um conceito em sânscrito chamado Lila, “jogo”, atividade espontânea, prazeirosa e inocente, fascinação e fingimento consciente. Viver a vida e transformá-la, criá-la para descriá-la, é ter essa Lila dançando cósmicamente (kosmos = ordem) dentro de nosso peito, voando ou mergulhando entre nossos pensamentos, energizando nossos pulsos, mãos e dedos em direção à realidade que quisermos e possamos criar. Gosto do nome “Lila”. É possível cultivá-lo, cultivar o jogo, a alegria, a energia, a potência, ao longo de uma meta? Que te parece?



O processo do coaching
Construir a realidade. É disso que se trata o processo do coaching. Pintar a realidade ao nosso redor com as cores que melhor se ajustem à nossa harmonia interior, à nossa compreensão e percepção da realidade.

Ao encararmos de frente a realidade tal qual ela nos aparece diariamente, mediada por outros intérpretes que não nós mesmos, por intérpretes televisivos, radiofônicos, virtuais, sentimo-nos profundamente solitários e, muitas vezes, submersos sob uma espécie difusa de cansaço existencial e prostração. Sair desse estado é irromper um ato de vontade, esse ato de vontade só se sustenta bem se encontrar um bom alicerce externo, um processo de parceria como a estabelecida no coaching. Esse ato de vontade e coragem só se sustenta se for movido por nossa emoção, por nossos valores e crenças, pelo que temos de mais íntimo. Por isso o Coach Quíron age convergindo metas e valores de seus clientes. É preciso força para mudar, é preciso força para manter essa mudança e também para seguir mudando e essa força só existe quando o indivíduo alinha suas metas, seus planos, projetos e sonhos ao seus valores pessoais.





“Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar...” - Friedrich Nietzsche

Nessa compreensão de mundo "deus" seria aquela força que age num estado de absorção e criação extática comparável àquele de um artista em seu momento de tensão criativa ou àquele de uma criança no prazer puro de um jogo de fantasia. Sobretudo é enfatizada a natureza transgressiva e libertadora do jogo desse deus, um jogo de amor que supera, na sua feliz espontaneidade, todas as regras de comportamento tradicional. Estabelecer novas regras torna-se a regra do jogo, criar novos mundos, mudar e ajustar o nosso mundo a essas mudanças.

A dança no universo, a mudança, o ajuste
Os deuses supremos dançam: Shiva, sagrado e terrível, dança sobre os mundos que acabou de destruir e libertar, dança em êxtase na presença da deusa encantada, Lalita, “amorosa” (aquela com quem se joga, com quem se brinca”). Na visão tântrica, Shakti dança sobre o corpo imóvel de Shiva. Os deuses divertem-se: Shiva e Parvarti jogam dados no seu paraíso e esse é um momento secreto, de intimidade, embora estejam jogando o destino do mundo.




A dança do coach e do coachee
P
ara dançarmos é preciso que acreditemos na dança, que tenhamos comprometimento e que possamos ser o equilíbrio e o alicerce um do outro, o ponto de apoio e também de desequilíbrio. Antes de mais nada é preciso reconhecer que a dança é um fluxo de energia entre dois seres em movimento para criar algo em harmonia com a atmosfera ao redor. O Coach Quíron é um processo de troca de energia, de dialética criadora onde reinam energias criadoras, ironias irritantes, movimentos bruscos e leves que te impulsionarão em prol da realização plena das tuas metas. A pergunta aqui é: Você concede-se esta dança?





Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

Criador do Coach Quíron

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