sexta-feira, 17 de junho de 2011

Taxi socrático

Colocar as fotos do novo espaço do Coach Quíron na internet fez até meus familiares ficarem curiosos. Estava conversando com a minha sobrinha e ela veio me perguntar o que exatamente faz um coach. Ás vezes ficamos tão mergulhados na brincadeira das perguntas que respostas diretas nos fogem. Foi quando naturalmente perguntei se ela poderia vir no espaço do Coach Quíron para que eu mostrasse para ela como um coach trabalha. 

O espaço do Coach Quíron fica em um bairro a mais de 12km de distância da casa dela, de forma que para que ela chegasse a ponto de terminarmos a conversa sem perdermos muito da comunicação no caminho, ela não deveria vir a pé. Seria melhor pegar um metrô ou um táxi. E é aí que, sem sairmos do telefone, comecei a explicar como funciona o sistema de trabalho de um coach.

Raízes inglesas
O significado da palavra "coach" é "cocheiro", aquele senhor que conduzia a carruagem (também conhecido como "coche" em português da época do Império). O que ele exatamente fazia? Reduzia as distâncias entre dois pontos de forma que o distinto cavalheiro em seu interior chegasse mais rápido, a salvo, limpo e descansado ao seu destino.

Atualmente o profissional do coach é essa espécie de "taxista" de metas. Ele não interfere no destino, na meta do seu cliente, só que, por estar interessado em que o cliente se adiante - caso contrário não será considerado um bom "taxista de metas" - ele procura fazer uma bateria de perguntas orientadas para determinar mais especificamente onde exatamente o cliente (coachee no termo técnico da área) quer estar, e em quanto tempo, e em quais condições, etc.

Ás vezes um destino final de um "passageiro" depende de várias outras paradas pelo caminho e estruturar esse itinerário da melhor maneira para o coachee é o que diferencia um bom profissional de um profissional fraco. Mas o coach, o "taxista de metas", pode fazer algumas perguntas potencializadoras, que abram perspectivas para o cliente.


Suponhamos um cliente que vá fazer uma viagem e esteja a caminho do aeroporto, depois de algumas perguntas o coach descobre que é uma viagem de lazer e que ele vai encontrar no embarque com a namorada e que os pais da namorada estão lá e a situação está um pouco tensa entre as famílias. O coach então pergunta se ele não quer levar um buquê de rosas, e o cliente diz que não dá tempo, porque têm que chegar uma hora antes do vôo para o check-in. Imediatamente o coach pega o celular (no viva-voz, ok?), liga para o florista do aeroporto e explica a situação, pergunta ao cliente qual a flor preferida de sua namorada e já pergunta ao florista quanto está um buquê de flores do campo e se ele pode encontrar com o cliente no guichê da empresa X, onde ele vai estar fazendo o check-in. Só então o taxista coach refaz a pergunta: O senhor quer dar um buquê de flores para a sua namorada? E mesmo antes que o cliente responda, o taxista já emenda outra pergunta: Será que eles vão deixar ela levar as flores no avião? Talvez ela deixe com a família dela... não acha?

O bom profissional amplia as expectativas de sucesso na empreitada, não apenas leva o cliente à meta desejada, como faz a meta ainda mais desejada e desejável.

Raízes gregas
Um dos maiores filósofos de todos os tempos foi o grego Sócrates, soldado ateniense de quatro séculos antes de Cristo. Ao estudar os livros de Platão sobre ele, quando a mais de uma década comecei a ler os diálogos de Platão, o que mais me impressionou foi sua coragem, não a coragem de tomar veneno e morrer, porque fora condenado pela cidade de Atenas a isso, mas a coragem de respeitar a autonomia dos que estavam ao seu redor. Sócrates jamais impôs a sua "verdade" às verdades alheias, apenas perguntava, questionava e buscava as incongruências nos argumentos de seus interlocutores. Era assim que ele operava a arte que chamava de "maiêutica", a arte de "parir idéias", de fazê-las vir à luz.

Jamais afirmar nada foi um problema político sim, mas incentivar a autonomia, sair da relação comum de poder onde um "ensina" e o outro "aprende", onde um "manda" e o outro "obedece", onde um "instrui" e o outro "acata" é a forma mais nobre e humana de lidar com um ser humano. Ensinar a pensar por si mesmo, a colocar em cheque o que temos como verdades absolutas e imutáveis, é o trabalho de um grande homem. E é esse exatamente o trabalho de um bom coach: respeitar e incentivar ao máximo a autonomia do sujeito, por isso o trabalho do coach é datado, tem um número certo de sessões, uma data de início e uma data final. O mais importante para o bom "taxista de metas" é ter a certeza de que, no final da viagem, o cliente está mais autônomo, seguro e realizado.

No final das contas, entra século e sai século um dos mais difíceis problemas para o ser humano é justamente aceitar a diferença, celebrar a autonomia do outro e respeitar sua individualidade. Essa é justamente a missão do Coach Quíron.

Texto: Renato Kress
Criador do Coach Quíron
Diretor do Instituto ATENA

Nenhum comentário:

Postar um comentário